O Quebra-Cabeça Impossível

Alquimia da Mente – Edição #045

Caminhando e pensando sobre a vida em Lisboa

Cresci numa família de engenheiros, então resolver problemas já circulava no sangue.

Lembro do meu pai apresentando jogos como TIM - uma mistura de física, química e muita criatividade. E também cilada, sudoku e Master.

E, claro, não podiam faltar os quebra-cabeças.

Ficávamos até altas horas na madrugada montando quebra-cabeças de mil peças. Separávamos as milhares de peças em grupos e sentávamos ao redor delas conversando, bebendo e resolvendo o desafio.

Meu irmão se formou em engenharia na UFRJ e foi chamado para trabalhar em uma empresa de robótica na Dinamarca.

Eu larguei economia na UFRJ e montei o Viver de Blog.

Nesse período, os problemas que resolvíamos eram outros.

Ele precisou se mudar do Brasil para a Dinamarca em menos de um mês e se adaptar a uma cultura mais fria, cuja língua é mais difícil que Grego.

Eu cuidava de uma equipe com 18 pessoas, cuja folha salarial era próxima de cem mil reais.

Precisei quebrar a cabeça para aprender técnicas de gestão de empresa. Investi 100 mil reais em um consultor nessa área.

Também investi até hoje mais de 1 milhão de reais em treinamentos, mentorias, eventos, viagens internacionais e masterminds para aprender as técnicas mais avançadas de marketing.

Porém, ainda havia um quebra-cabeça impossível de se montar.
Não importava o quanto me dedicasse, ele não tinha solução.
Ter uma técnica superior, saber o número de peças ou até ter a cola da imagem completa não era suficiente. Esse quebra-cabeça nunca poderia ficar pronto.

O quebra-cabeça impossível

Este é o quebra-cabeça mais importante da sua vida.
Afinal, você é este quebra-cabeça.

Buscar conhecer a si mesmo leva a um caminho profundo de desenvolvimento humano. E quanto mais você descobre novas peças sobre você, logo percebe que ainda há muito a ser descoberto.

  • Lembro da primeira vez que meditei.

  • Lembro da primeira vez que orei.

  • Lembro da primeira vez que tomei Ayahuasca.

  • Lembro da primeira vez que fiz terapia.

  • Lembro da primeira vez que fiz um jejum de 24 horas.

  • Lembro da primeira vez que entrei numa banheira imersa de gelo.

  • Lembro da primeira vez que acordei após longas horas na sala de cirurgia.

  • Lembro da primeira vez que beijei uma garota.

  • Lembro da primeira vez que sofri por amor.

  • Lembro da primeira vez que perdi um parente.

  • Lembro da primeira vez que senti a presença de Deus.

Já pensei saber demais sobre a vida nos meus vinte anos.
Claro, meu círculo de experiência era tão limitado que era fácil esbarrar em suas bordas, sem conhecer o tamanho de tal ignorância.

Quanto mais você se reinventa, conhece novas pessoas e entra em contato com novas culturas e novas visões de mundo, mais você percebe que não sabe DE NADA. E, por consequência, muito pouco sabe de si mesmo.

Logo, acreditar que você se conhece perfeitamente é uma cilada.

Se dar alta da terapia (como já ouvi por aí) é uma tolice.

Você nunca irá se conhecer por completo.

A única constante na vida é a mudança.

E buscar sozinho entender todas suas ações e decisões na vida é outra tolice.

Somos imperfeitos, temos nossas sombras e cedemos facilmente aos mais simples pecados.

Portanto, aceite de uma vez por todas que este é um quebra-cabeça impossível de completar.

Agora, você pode encarar essa informação de duas formas:

  1. Frustração: pois seu maior esforço será incapaz de te montar seu quebra-cabeça.

  2. Salvação: pois você entendeu que este é um jogo sem uma linha de chegada e a jornada é mais importante que o destino.

Apreciando a jornada

Como um TIPO 5, DC, INFJ-A, Rígido-Psicopata, Neurótico-Obsessivo e qualquer outro nome bizarro que a psicanálise e análise de comportamento carimbar, é fácil ceder a pressão para performar.

Ou seja, é fácil se criticar e chicotear quando os resultados não estão de acordo com sua expectativa.
E que a solução é se cobrar ainda mais e buscar esse resultado a qualquer custo.

É bem capaz que tanto eu como você nos beneficiaríamos de rir mais de nós mesmos. Sobre nossas falhas, sobre o quanto somos imperfeitos.

Essa jornada chamada vida é uma só.
Ela parece longa, se pensarmos nos cem anos como expectativa de vida.
Mas ela passa num suspiro, em um piscar de olhos.

Todo esse tema me faz lembrar do livro “O poder dos momentos”, em que os autores compartilham os 5 arrependimentos mais comuns que pessoas idosas sentem ao final da vida:

  1. “Gostaria de ter mais coragem para ser eu mesmo”.

  2. “Gostaria de não ter trabalhado tanto”.

  3. “Gostaria de conseguir me expressar melhor meus sentimentos”.

  4. “Gostaria de me conectar mais com minha família e amigos”.

  5. “Gostaria de me permitir ser mais feliz”.

Não sei qual destes cinco arrependimentos tocam você.
Para mim, o (2) e (3) pesam mais.

De toda forma, ainda há muito o que descobrir sobre esse ser que vos escreve.
E tenho certeza que o mesmo pode ser dito para você, caro leitor.

Afinal, somos um quebra-cabeça impossível de completar.
Podemos (e devemos) buscar o desenvolvimento e melhoria como pessoas.

Cada nova peça de quebra-cabeça que você conecta é como descobrir um segredo guardado há muito tempo.
É como ter paz mental sobre o que te levou até o aqui e o agora.
É ter mais clareza sobre sua maneira de tomar decisões.

Nunca desista de montar esse quebra-cabeça.
Mas também saiba que ele nunca será completo.
E sua imperfeição é o que te faz único nesse mundo.

Forte abraço,
Per aspera ad astra! 🎖️
– HC

P.S. Essa foi uma semana insana. Após receber centenas de novos alunos no curso Viver de News, também embarquei para uma viagem internacional para conhecer meu sobrinho Theo.

Escrevo essa news agora em Milão e agora em Lisboa.

Ah, eles também possuem ótimas tangerinas aqui.
Chamam de clementinas. Uma delícia:

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