O Caldo Cultural

Alquimia da Mente – Edição #046

Basílica de São Pedro – Vaticano

Após uma pizza de presunto parma, um vinho tinto e uma longa conversa vamos dormir às 04:00 em Roma.
Nos hospedamos em um AirBnB a apenas duas quadras de distância do Vaticano.

Cochilamos uma hora e, com o sol nascendo, chamamos o Uber para o aeroporto.

Pegamos nossas três malas, descemos três andares de escada, digitamos três senhas diferentes e…
PREGO! Encontramos o Giovanni, nosso motorista.

Ele acelera seu Fiat Sienna como se fosse uma Ferrari.

A cada curva a comida do dia anterior sambava de um lado para o outro.

Sinto sono, enjoo, dor de cabeça. 
Mas logo pegamos uma longa rodovia e chegamos inteiros ao aeroporto.

Passamos pelo raio-x, tomamos um café explode-coração e entramos no avião.

Não consegui ver a decolagem. Apaguei no mesmo instante em que sentei.

Após 2h30min de voo, desperto, mas continuo com os olhos fechados.
Escuto o trem de pouso descendo. Estamos prestes a pousar em Copenhagen.

O voo está repleto de italianos conversando em todas as fileiras.

O avião vai descendo, descendo e descendo… Até que…

– BRAVÍSSIMO! 🤌

Todos os italianos gritam e batem palmas.

Foi a aterrissagem mais perfeita que já presenciei em toda a minha vida.

O avião deslizou na pista como uma folha caindo em um lago.

Simpatizo com os italianos. Apesar de introvertido, aprecio o estilo “La Dolce Vita”.

Enfim, chegamos nesse pequeno país nórdico.

Essa era a minha segunda vez na Dinamarca.

Pegamos as malas e andamos até o Metrô.

Abro o aplicativo do governo “DSB”, que organiza o transporte público pelo país. Compro os tickets do metrô em segundos nesse app. Em um minuto (como previsto), o metrô chega. Em quinze segundos as portas se abrem, todos entram e elas se fecham.

Não havia uma máquina para escanear meu ticket dentro ou fora do metrô.
Também não havia um único funcionário do metrô para fiscalização. 
Toda a operação era automática em um aplicativo da iniciativa pública.

Como brasileiro, não deixo de pensar:

“Qualquer pessoa pode entrar nesse metrô sem pagar, se desejar.”

Logo vejo como meu Caldo Cultural Brasileiro me leva a pensamentos que aqui nem são cogitados.

Lembro dos bebês que, às vezes, ficam do lado de fora das lojas em seus carrinhos enquanto os pais dinamarqueses terminam as compras.

S-U-R-R-E-A-L!
Não consigo processar esse pensamento. O conflito cultural é gigante.

Após esse choque, descemos em Frederick Alley e caminhamos por sete minutos com as malas até nosso “hotel”. Chegamos ao CityHub de Copenhagen.

Fizemos o check-in em um totem e, em menos de dez segundos, pego uma pulseira que servirá como chave de acesso para todos os lugares desse Hub.

Nosso quarto é um cubículo de seis metros quadrados.

Top or Bottom? Qual você escolheria?

Existem centenas deles espalhados em três áreas em um único andar.

O banheiro é compartilhado. Para minha surpresa, extremamente arrumado, cheiroso e prático. Mais confortável do que a minha casa, lembro de pensar.

Desde que pisamos em solo dinamarquês, não conversamos com um único humano.

Fizemos um interlúdio entre Itália e Grécia para visitar meu irmão, minha cunhada e meu (recém nascido) sobrinho.

Eles moram em Odense (a 1h30min de Copenhagen) desde 2020.

Meu irmão veio para trabalhar em uma empresa de robótica chamada Blue Ocean. Durante o Covid, ela produziu diversos robôs para desinfectar e limpar hospitais, principalmente na China.

Brinco com minha família dizendo que enquanto meu irmão salvava o mundo do Covid produzindo robôs, eu mandava emails com spam.

Chegamos exaustos no cubículo e dormimos por três horas.

Logo depois, saímos para comprar água, alguns chocolates e umas barras de proteína.

O mercado possui um self-checkout.
O desafio: a máquina toda está em dinamarquês.

Algumas palavras são gigantes, com 15 letras seguidas.
Não entendemos nada. Aperto um botão que parecia um cartão de crédito. Sucesso.

Na próxima tela, mais palavras grandes e estranhas.
Os botões também não ajudam - todos da mesma cor e tamanho.

Um funcionário do mercado aparece (do além) e nos ajuda a finalizar a compra.

Um humano. Finalmente!

Andamos pelas ruas de Copenhagen e apreciamos o fim de tarde / início de noite da capital da Dinamarca.

O clima era bem agradável, em torno de 18ºC nesse final de primavera, e lugares mágicos apareciam como em um conto de fadas da Disney.

O Caldo Cultural

Brasil. Portugal. Itália. Dinamarca.
A diferença cultural é gritante.

Aqui na Dina, você vê mais bicicletas que pessoas.
Ao atravessar a rua, você deve olhar mais para as bikes que para os carros.

Toda rua possui sua ciclovia e, assim como há códigos e sinais de trânsito que aprendemos ao tirar carteira de motorista, também existem códigos simples que ciclistas usam para comunicar uma parada ou uma virada à esquerda.

Ontem, dia 18/05/2024, finalmente conheci meu sobrinho Theo (agora com seis meses). Brincamos, tiramos fotos. E quando fui olhar as fotos, uma surpresa: as memórias de um ano atrás.

Vejo as fotos do chá revelação do bebê - dia 18/05/2023, o dia em que descobri que esse bebê era um menino, que ele seria o Theo.

E agora, exatamente um ano depois, estou aqui apertando suas bochechas, carregando-o no colo, dando kiwi cortado na sua boca. (Obs: ele já come gominhos de tangerina).

Sabe, após voos, metrôs, trens, ônibus, cafés, mercados, patinetes elétricos, ruas limpas e muitos Teslas na rua, me pego pensando:

Esse é o Caldo Cultural que o Theo vai herdar desse país nórdico.

Um país cuja alíquota máxima do Imposto de Renda pode chegar a 55%.

E mesmo assim você não se sente roubado pelo governo.

Pelo contrário, aqui essa instituição chamada “Estado” funciona.

Quando Theo tiver seus 10 anos ele saberá falar Dinamarquês, Inglês e Português. Ele andará livremente pelos trens, ônibus e metrôs com um aplicativo, como muitas crianças fazem sozinhas por aqui.

Esse é o Caldo Cultural que será derramado nele.

Diferente de um Carioca como eu, não será normal para ele entender porque devemos pagar dez "merréis” para um flanelinha “olhar o carro” em Ipanema, pois, caso contrário, você pode encontrar um risco gigante na lateral dele quando voltar do seu passeio.

Ele não entenderá o “’jeitinho brasileiro”, o individualismo em busca do benefício próprio às custas de pessoas desconhecidas.

Ele provavelmente não passará quatro horas por dia no Instagram seguindo artistas famosos, assistindo BBB ou lendo notícias repentinas sobre corrupção.

Viajar é uma experiência rica porque você se coloca diante de um novo Caldo Cultural. E assim, expande sua visão de mundo.

Eu adoro o jeito dinamarquês de organizar e automatizar soluções.
Assim como também adoro o jeito italiano de apreciar o momento presente.
Assim como adoro o jeito brasileiro de ajudar o próximo.

Cada Caldo Cultural é como um tempero que você coloca na sua comida.
Com o tempo, você sabe exatamente o que lhe agrada e desagrada.
Mas, assim como a culinária de todo novo país, ainda há muito o que se descobrir. Logo, deixe o Caldo Cultural se derramar sobre você.

Forte abraço,
Per aspera ad astra! 🎖️
– HC

P.S. Continuamos nossos 19 dias de viagem pela Europa. Hoje, dia 19/05, aniversário do meu pai, estamos em Odense (Dinamarca) e, em breve, embarcamos para a Grécia, para conhecer as ilhas de Mykonos e Santorini.

Aqui vão algumas fotos das seis cidades que visitamos até agora:

(1) Parece um quadro de Monet, mas é “apenas” um parque aleatório em Lisboa

(2) Galeria Vittorio Emanuele – Prada, Gucci ou Louis Vuitton (Milão)

(3) No topo da montanha olhando para o Lago Como

(4) Coliseu - Roma

(5) Por do Sol em Copenhagen (Dinamarca)

(6) Odense na primavera (Dinamarca)

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