O Grande Outro

Alquimia da Mente – Edição #041

O HC no Instagram é o mesmo HC da vida real?

Uma máscara grotesca na face da alma.
Um palco virtual, onde a realidade se distorce em filtros e poses artificiais.
Uma entidade abstrata, composta por milhões de rostos anônimos.
Uma divindade tirana das redes sociais.

Seus desejos ditam as regras do jogo, nos moldando em caricaturas grotescas. A vida se transforma em um espetáculo.
Cada passo, cada sorriso, cada conquista, cada refeição, cada pensamento, precisa ser encenado para a adoração do Grande Outro.

No altar do Instagram, sacrificamos a autenticidade em nome de likes e comentários, curvando-nos à tirania da validação externa. Cada foto uma súplica silenciosa por aprovação, cada legenda um mantra para conjurar a atenção efêmera do Grande Outro.

Sorrisos perfeitos emolduram dentes branqueados artificialmente, corpos esbeltos ostentam roupas de grife em paisagens paradisíacas. Uma farsa encenada sob a luz dos holofotes digitais, onde a felicidade se mede em números e a autoestima se alimenta de migalhas de atenção virtual.

O Grande Outro, com seus milhões de tentáculos digitais, devora tudo em seu caminho. Transforma amigos em seguidores, amores em curtidas, experiências em conteúdo. A vida se torna um reality show permanente, onde cada indivíduo é protagonista e roteirista de sua própria farsa.

O Grito da Alma

É possível gritar em silêncio?

Por trás das máscaras sociais, a alma grita em silêncio.
A solidão corrói por dentro, enquanto a busca incessante por aceitação nos afasta cada vez mais daquilo que realmente somos. 

O Grande Outro, com sua fome insaciável de perfeição inalcançável, nos transforma em marionetes dançando ao ritmo da sua melodia dissonante.

Nascemos livres, mas nos acorrentamos às expectativas do Grande Outro. 
Criamos personas virtuais que vendem uma falsa imagem de felicidade, enquanto a melancolia real se esconde nas sombras da tela. 

A vida se torna uma performance constante, um espetáculo grotesco onde o público aplaude a ilusão e ignora a dor que a sustenta.

Como escrevi nesta edição sobre minhas mais de 100 sessões de terapia, vivemos em uma sociedade do cansaço, ideia e livro escrito pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han.

Hoje, há uma pressão invisível para performar.

Números de seguidores, likes, comentários e compartilhamentos tornam evidente o ranking social entre pessoas.

sociedade do cansaço (preciso desempenhar) leva à sociedade da transparência (compartilho toda minha vida com o Grande Outro) que leva à sociedade do desencanto ("Se a platéia não bate mais palmas ou não me serve mais, descarto”).

O Monstro da Comparação Social

O ciclo vicioso da insatisfação

A cada like, a dopamina corre em nossas veias, proporcionando uma sensação fugaz de prazer. Mas logo a ilusão se desfaz, e a necessidade por mais validação se torna cada vez mais intensa. 

Entramos em um ciclo vicioso de insatisfação, onde a busca por aprovação externa nos afasta da felicidade genuína.

Compartilhamento após compartilhamento, alimentamos o monstro da comparação social.

Observamos a vida perfeita dos outros, filtrada e editada, e nos sentimos inadequados, inferiores. A grama do vizinho sempre parece mais verde, e a nossa própria realidade se torna cinzenta e sem graça.

Sabe, apesar de ser um jovem adulto aos 35 anos, já paguei um preço muito caro pelos vários erros que um homem nessa idade pode cometer.

  • Já busquei reconhecimento e sucesso acima de tudo.

  • Já valorizei mais uma curtida efêmera que o afeto genuíno.

  • Já fiz uma viagem que parecia incrível nas fotos, mas foi um perrengue emocional do início ao fim.

  • Já tive um burnout por comprar os sonhos de outras pessoas, ignorando minha própria natureza.

É fácil nos contarmos histórias grandiosas sobre decisões que tomamos na vida. Principalmente, as mais terríveis.

“Faço o que faço pelos meus pais, pois quero dar uma casa para eles” – disse um empreendedor cuja relação com os pais era terrível e ele não estava nem aí, mas queria uma mulher diferente em sua cama por semana (sua real intenção), já que estava ganhando muito dinheiro.

“Faço o que faço pelos meus filhos” – disse uma terapeuta familiar famosa no Instagram cujos vizinhos escutavam tapas e berros todos os dias.

Triste, mas a realidade. Sabemos que todo mundo está travando uma batalha que mal conhecemos.
Mas qual é a real influência do Grande Outro nessa constante luta?

A Desumanização do Ser

Somos todos uma cópia de uma cópia de uma cópia?

Nos tornamos produtos a serem consumidos pelo Grande Outro. 
Perdemos a individualidade, nos moldando em cópias uns dos outros, na busca desesperada por aceitação. A autenticidade se torna um bem raro, escondido sob camadas de filtros e poses artificiais.

Nos comunicamos em emojis e abreviações, substituindo palavras por imagens simplistas. A linguagem se empobrece, a comunicação se torna superficial. Perdemos a capacidade de expressar nossos sentimentos de forma profunda e significativa.

Autenticidade se torna uma moeda rara, escondida sob camadas de filtros e poses artificiais, como uma flor murcha em um deserto de likes e comentários. 

pressão para se encaixar em padrões inalcançáveis de beleza e perfeição nos aprisiona em uma gaiola de insatisfação, onde a verdadeira essência de cada ser se perde em meio à busca por aprovação efêmera.

A Tragédia do Empreendedor Oco

Somos feito de isopor?

No palco da ambição, onde o dinheiro canta sua melodia dissonante, o empreendedor se transforma em um acrobata do sucesso, dançando no fio da navalha da validação externa. 

Placas de recordes de faturamento se erguem como troféus vazios, enquanto a vida pessoal se esvai em um abismo de negligência.

A busca incessante por reconhecimento financeiro cega os olhos para a verdadeira riqueza: a conexão humana, o amor, a paz interior. 

empreendedor oco, preso à gaiola dourada do sucesso material, ignora os pilares que sustentam a alma: a família, os amigos, a autorrealização genuína.

Um Titã de Barro

Imponente, mas frágil

Em sua jornada frenética, o empreendedor se torna um titã de barro, imponente na aparência, mas frágil na essência. 

Ele sacrifica o tempo com os filhos, a atenção à esposa, a amizade fraterna. A vida se torna um turbilhão de reuniões, viagens e decisões, onde o afeto se torna um luxo esquecido.

Mas a realidade, impiedosa, bate à porta como um fantasma insistente. A solidão corrói o coração, o vazio toma conta da alma. O sucesso material agora se revela um eco oco, incapaz de preencher o abismo da solidão.

  • Onde estão os aplausos para o bom pai que dedica cada minuto livre aos seus filhos? 

  • Onde estão os holofotes para a mãe que cuida com amor e carinho de sua família? 

  • Onde está o reconhecimento para o marido ou esposa que sustenta o lar com dedicação e afeto?

A sociedade, cega pela ostentação do dinheiro, ignora os heróis anônimos do cotidiano. O empreendedor oco, preso à armadilha da validação externa, se torna um prisioneiro de sua própria ambição.

Decadência Moral

Onde nos perdemos?

Recebemos placas e troféus como reconhecimento: faturamento, alcance, vitórias. Mas onde estão as placas para um bom pai, uma mãe cuidadosa, um homem de honra, uma mulher virtuosa?

boa mãe, com suas mãos calejadas pelo carinho e seus olhos cheios de amor incondicional, é vista como uma figura ultrapassada, um relicário de uma época que já não existe. 

O Grande Outro, em sua arrogância digital, ignora a força transformadora do amor materno, a capacidade de criar e educar seres humanos íntegros e virtuosos.

pai dedicado, que sacrifica seus sonhos e ambições em prol da felicidade da família, é ridicularizado como um ser fraco e submisso

O Grande Outro, em sua cegueira materialista, não reconhece a importância da figura paterna na construção de indivíduos fortes, responsáveis e amorosos.

homem de honra, que segue princípios éticos e morais rígidos, é visto como um excêntrico em um mundo dominado pela corrupção e pela falta de valores. 

O Grande Outro, em sua decadência moral, desdenha da honestidade, da integridade e da retidão, preferindo a ilusão da riqueza e do poder efêmero.

mulher virtuosa, que cultiva a modéstia, a humildade e a compaixão, é considerada antiquada e fora de moda. 

Grande Outro, em sua superficialidade extrema, exalta a ostentação, a vaidade e a busca desenfreada por atenção, ignorando a beleza da simplicidade e da verdadeira feminilidade.

Placas e Troféus

Qual é o preço que você colhe da vitória?

Suas placas de faturamento podem até ser conquistadas ou compradas, mas você não pode ir ao mercado e pedir um quilo de honra, caráter e felicidade.

Dar uma casa aos seus pais porque você é rico agora não torna você um ótimo filho, se você mal passa tempo com eles e desconhece seus desafios emocionais. 

Comprar o brinquedo do ano para seu filho não te torna um ótimo pai, se sua babá tem mais intimidade com seu filho que você.

Dar uma bolsa de 25 mil reais como presente de aniversário para sua mulher não te torna um ótimo marido, se vocês mais brigam que conversam.

Somos ótimos em dar e acumular placas do TER, mas somos péssimos em reconhecer placas do SER.

  • Você não receberá uma placa por doações e ajudas à sua comunidade.

  • Você não receberá uma placa por ter sido um bom pai, uma boa mãe.

  • Você não receberá uma placa por honrar sua palavra.

  • Você não receberá uma placa por ser Cristão.

Se alguém bater em você numa face, ofereça-lhe também a outra.
Se alguém tirar de você a capa, não o impeça de tirar a túnica.
Lucas 6:29

Também não há uma placa para atitudes como essa.

Entendo que nosso mundo valoriza essas placas (tenho várias delas na minha estante), mas nada, absolutamente NADA tem maior valor que honra, justiça e integridade.

A Liberdade da Alma

Nascemos livres

É hora de despertar do pesadelo digital e romper as amarras da tirania do Grande Outro.

Reivindicar a autenticidade como um direito inalienável, abraçar as imperfeições que nos definem e celebrar a beleza daquilo que nos torna únicos.

Desligue o celular, olhe para o espelho e reconheça o rosto que está ali. Não é a máscara do Instagram, mas a face autêntica da sua alma

Abrace suas imperfeições, suas dores, suas alegrias. 
Viva a vida para você, não para o Grande Outro.

Porque a verdadeira felicidade não reside nos likes e comentários, mas na liberdade de ser quem você realmente é.

Forte abraço,
Per aspera ad astra! 🎖️
– HC

P.S. O conceito de “O Grande Outro” é uma ideia central na teoria psicanalítica de Jacques Lacan que já ouvi várias vezes nas minhas terapias com a Maysa.

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