Você não é tão esperto quanto pensa

Ainda hoje me lembro da minha roupa branca toda cheia de lama.
Tinha uns 12 anos. Curtia as férias em Campos dos Goytacazes, litoral do Rio de Janeiro.
Naquele dia marcante, uma lua cheia do tamanho do sol iluminava o céu.

Minha gigante família se preparava para celebrar o Natal.
Minha Bisa, chamada Senhorinha, teve 13 filhos.
Meu Bisavô, deixou 38 filhos para o mundo.

Montar nossa árvore genealógica sempre foi um desafio homérico.
Além disso, minha mãe tem duas mães. Uma biológica e outra de criação.
E ela também nunca conheceu seu pai, um português que estava no Brasil ilegalmente.

As reuniões de família sempre foram uma caixinha de surpresas.
Conhecia parentes distantes. Ouvia histórias inacreditáveis.

Eu, todo de branco, olhava aquele tanto de gente que tinha dificuldade em lembrar dos seus nomes.
Porém, o que mais me chamava atenção aquela noite era a gigante lua cheia.
Não hesitei. Chamei todos para ver a lua mais memorável da vida deles.

Apontei para o céu. Mas o telhado da casa ainda cobria parte da vista.
Dei cinco passos para trás e ....TCHIBUM!
Tropecei e cai dentro de um poço de lama.

A camisa e o short branco ficaram marrons.
A minha cara branca ficou vermelha de vergonha.
Meu cabelo duro como a terra e viscoso como o barro.
"Como vou aproveitar a ceia após mergulhar nesse poço de lama?" – pensei.

Minha mãe me ajudou a sair do poço e corremos para a casa da minha vó.
Tomei um banho, me troquei, mas disse que não voltaria por nada aquele jantar.
Para mim, a noite de Natal terminou ali.

"Mas é Natal, estão todos esperando a gente!" – ela tentou insistir.
Inventei qualquer condição, como uma dor de cabeça, enxaqueca ou enjoo, para deitar e dormir.

No dia seguinte, imaginei que meu tropeço seria o assunto da família.
Mas ninguém falou nada! Absolutamente zero comentários.
Era como se eles não lembrassem que caí num poço de lama.

E assim, de forma despretenciosa, pude conhecer um viés comportamental que afeta praticamente todos nós: "The Spotlight Effect" (Efeito Holofote).

Como se houvesse um holofote apontando em nossa direção.
A sensação de que muitos olhos estão fixos sobre nós.
As pessoas tendem a acreditar que são muito mais observadas do que são.

Eu não sou tão inteligente ou especial como imagino.
Você não é tão esperto como pensa.

Na edição #011, escrevi sobre como tomar boas decisões.
Na edição #012, apresentei a ordem perfeita dos 7 gatilhos mentais para influenciar decisões.
Hoje, nesta edição #013, fecharei esta trilogia com os 10 vieses comportamentais que afetam decisões inteligentes.

Continue lendo e surpreenda-se com as falhas de julgamento quando ignoramos a lógica e nos deixamos levar pela emoção.